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Acessibilidade no MHN é o tema do novo episódio do podcast “Museu e histórias”

Ainda nos anos 1990, o Museu Histórico Nacional colocou legendas em braille em itens de seu acervo disponíveis para toque. Neste episódio do Podcast “Museu e histórias”, a equipe de Comunicação do museu recebe dois convidados para falar sobre acessibilidade

Como pessoas com diferentes tipos de deficiência podem usufruir de forma ampla as experiências que um museu proporciona? Valeria Abdalla, museóloga que atua na área de acessibilidade do Núcleo de Educação do MHN, e desenvolve mestrado em Comunicação Acessível no Instituto Politécnico de Leiria (Portugal); e Leonardo Oliveira, educador que atua no MHN em ações acessíveis na área da deficiência visual, falam sobre a acessibilidade no Museu Histórico Nacional. Confira abaixo a transcrição da entrevista – que você pode ouvir em nosso perfil no Spotify.

O termo “acessibilidade” é relativamente novo para os brasileiros e tem um significado amplo. Valéria, você pode esclarecer como esse termo se aplica especificamente aos museus?
VA: O termo acessibilidade tem a ver com acesso de todas as pessoas em igualdade de oportunidades. No âmbito cultural, a Declaração Internacional de Direitos Humanos de 1948 já afirma que todas as pessoas têm o direto de participar da vida cultural da comunidade. Mas, na prática, ainda existem diversas barreiras na sociedade que dificultam essa participação. E nos museus não é diferente.

Valéria Abdalla e Leonardo Oliveira falam sobre acessibilidade no MHN

Valéria Abdalla e Leonardo Oliveira falam sobre acessibilidade no MHN

A questão da acessibilidade em museus vem ganhando espaço nos últimos anos no Brasil. Apesar de não existir uma única abordagem sobre o assunto, o MHN trabalha na perspectiva de garantir o acesso ao museu para pessoas com deficiência – e pessoas sem deficiência também acabam sendo beneficiadas.

Por exemplo, uma ação educativa com experiência tátil, com foco no público com deficiência visual, pode proporcionar experiências significativas para outros públicos sem deficiência. Ao ampliar as letras de um folheto do museu estamos atendendo às demandas de pessoas com baixa visão, mas pessoas idosas e crianças também são beneficiadas.

Muitas vezes acabamos trabalhando para adaptar o que já existe aos padrões de acessibilidade. Mas precisamos entender que é essencial planejar ações levando-se em conta desde o princípio as demandas específicas das pessoas com deficiência.

O MHN foi um dos primeiros museus cariocas a aplicar legendas em braile em alguns itens de sua exposição de longa duração. Você poderia contar um pouco da história da acessibilidade no museu?
VA: Ainda na década de 1990, em conjunto com o Instituto Benjamin Constant, aqui do Rio de Janeiro, o MHN desenvolveu legendas em braille para o Pátio dos Canhões, onde há itens do acervo disponíveis para o toque. Isso demonstra que a preocupação da instituição com a acessibilidade não é de agora. No momento, essas legendas estão sendo revistas para melhor atender as demandas do público.

Já o conjunto arquitetônico sofreu muitas transformações ao longo do tempo. As mudanças feitas a partir dos anos 2000 permitiram uma melhor mobilidade no espaço do museu. A partir de 2010, o MHN passou a contar com videoguia em Língua Brasileira de Sinais – Libras – e legenda em português com o intuito de deixar a comunicação com o público ainda mais acessível.

Como as exposições costumam ser muito voltadas para a exploração visual, como as pessoas com deficiência visual podem usufruir destes espaços e conteúdos? Pensando nisso, mais recentemente, algumas reproduções táteis de peças do acervo em exposição foram inseridas no circuito com legendas em braille e letras ampliadas.

A educadora Letícia Souza durante mediação em Libras na sala "Os donos da terra" da exposição de longa duração

A educadora Letícia Souza durante mediação em Libras na sala “Os donos da terra” da exposição de longa duração

A partir de 2016, a equipe de educação do museu cresceu e daí foi possível iniciar uma atuação mais sistemática com acessibilidade nas ações educativas. E por considerarmos essencial a participação das pessoas com deficiência nas ações que tratam de acessibilidade, o Leonardo entrou para a equipe de educação.

Um dos lemas da acessibilidade é “Nada sobre nós, sem nós”. Leonardo, Você poderia falar sobre o aspecto da representatividade nas ações que envolvem acessibilidade?

LO: Para alguns, o termo e as discussões a respeito da acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência visual é algo relativamente novo. Mas não para nós, pessoas cegas e com baixa visão, essa é uma luta que acontece diariamente mesmo que não tenhamos plena consciência disso – desde que nascemos ou nos tornamos pessoa com deficiência.

É como se a gente precisasse provar sempre que podemos levar a vida com autonomia e segurança e que a deficiência é apenas mais uma coisa que faz parte da nossa vida e que, apesar de muita gente não conseguir enxergar dessa forma, também nos compõe e nos faz inteiros e iguais em direitos e deveres.

Esse lema antigo, “nada sobre nós sem nós”, quando entendido na prática, tem o potencial de reduzir muito mais rapidamente as desigualdades entre pessoas com e sem deficiência. Mais do que ninguém, nós sabemos o que funciona. Como queremos ou gostamos de ser tratados. Inclusive temos muito mais consciência da diversidade que há entre nós.

Você é educador e atua nas ações de acessibilidade do MHN. Quais seriam hoje as principais barreiras do museu em relação aos públicos que demandam por acessibilidade?
LO: O MHN está caminhando. O treinamento e sensibilização das equipes com seminários, palestras, rodas de conversa; o protagonismo de pessoas com deficiências, a elaboração de visitas mais inclusivas são algumas ações que o museu vem implementando para quebrar algumas dessas barreiras.

Visitante de olhos vendados tem experiência tátil em reprodução de escultura no circuito expositivo do MHN

Claro que isso vai aparecer primeiro para os nossos pares, os que estão mais próximos, como colegas de outros museus e centros culturais. Com o tempo e o aprimoramento do trabalho, em breve começará a ser percebido também pelas pessoas com deficiências que estão fora desse meio.

A questão é que a acessibilidade não está somente relacionada aos produtos oferecidos pelos museus e centros culturais. É necessário pensar no deslocamento dessas pessoas até esses lugares. Em alguns casos, precisaremos rever políticas educacionais e fortalecê-las nesse sentido: de modo que a questão da acessibilidade seja marcada de maneira prioritária. As pessoas com deficiências precisam ser ouvidas e levadas a sério nesse processo.

Valeria, diante do que Leonardo nos apontou agora, como o MHN está se preparando para ampliar a acessibilidade tanto ao conjunto arquitetônico quanto nas exposições e materiais produzidos pelo museu?
VA: Como o Leonardo falou, algumas ações já estão acontecendo para tornar o museu mais acessível. No Núcleo de Educação trabalhamos para que nossos projetos já surjam acessíveis às demandas dos diversos públicos. Pela primeira vez, um programa que trata da acessibilidade para além das áreas de educação e exposição está presente no planejamento das ações para os próximos quatro anos! É um grande desafio e a proposta é promover aproximação de todos os setores do MHN em torno da acessibilidade.

Para os próximos anos vamos nos concentrar em ações que ampliem o acesso ao nosso acervo, à informação e às ações como um todo do museu. Como exemplo, vou citar um material que estamos desenvolvendo, que abordará uma mesma temática em diferentes formatos para atender às demandas dos nossos públicos.

Estamos preparando um conteúdo com linguagem simples, audiodescrição de imagens e versão em Libras. Também estamos trabalhando para a formação de uma coleção acessível. Os itens incorporados serão utilizados em ações com experiências táteis. Além disso, queremos contar cada vez mais com a participação das pessoas com deficiência e de instituições parceiras para desenvolver as ações. Temos um longo caminho pela frente!

Leonardo Oliveira media visita de grupo de pessoas cegas e com baixa visão ao circuito do MHN

Para finalizar: Leonardo, vamos nos voltar para o futuro: como você imagina a questão da acessibilidade nos museus brasileiros nos próximos anos?
LO: As pessoas com deficiências, na verdade, são invisibilizadas desde que o mundo é mundo. O que mudou, e ainda está mudando, é a postura delas e da sociedade na busca pelos direitos, pela inclusão, pela efetivação desses direitos, em um exercício de enxergar as potencialidades que essas pessoas possuem.

Então, na medida que as políticas públicas, de educação e as educacionais dos próprios espaços, forem rediscutidas, a gente tem muito avanço pela frente nos próximos anos. Se as pessoas com deficiência forem levadas a sério, ouvidas neste processo e fizerem parte dessa construção, aí sim a gente tem muitos avanços pela frente! Já avançamos bastante e esse processo começou a se acelerar quando as pessoas com deficiência começaram a construir, não só serem ouvidas depois, quando as coisas estão prontas, mas construir esse processo junto com a sociedade de forma geral.

Para obter mais informações sobre as ações de acessibilidade do MHN, faça contato pelo endereço eletrônico mhn.educacao@museus.gov.br. Outras informações sobre o Museu Histórico Nacional podem ser obtidas pelo endereço eletrônico faleconosco.mhn@museus.gov.br.

Texto: Ascom/MHN
Fotos: Divulgação/MHN

 

Acessibilidade no MHN é o tema do novo episódio do podcast “Museu e histórias”

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