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Podcast MHN: segundo episódio aborda acervo de numismática do museu

Um dos acervos mais relevantes de numismática da América Latina encontra-se no Museu Histórico Nacional. Nesta semana, o museu lança uma primeira coleção digitalizada de moedas na plataforma Acervo MHN.

No segundo episódio do podcast “Museu e histórias”, a equipe de comunicação do MHN conversa com Paula Aranha, museóloga do Núcleo de Acervo de Numismática da reserva técnica do MHN, sobre o lançamento da coleção online e outros temas. Confira abaixo a transcrição da entrevista – que você pode ouvir em nosso perfil no Spotify.

O Museu Histórico Nacional está lançando online uma coleção de moedas que faz parte de seu acervo – a primeira que vai ao ar na plataforma Tainacan do MHN. Conta pra gente: por que essa coleção foi escolhida?

PA: Esta primeira coleção que vai ao ar é uma pequena parte do acervo de numismática do museu, formado por mais de 150 mil itens. Ela faz parte de um longo e minucioso trabalho de normalização e padronização das informações sobre as coleções que está sendo feito pelos museólogos do Museu Histórico Nacional e do Ibram [Instituto Brasileiro de de Museus], em parceria com a Universidade Federal de Goiás.

Pedro Heringer e Paula Aranha são museólogos do Núcleo de Acervo de Numismática da reserva técnica do MHN

Pedro Heringer e Paula Aranha são museólogos do Núcleo de Acervo de Numismática da reserva técnica do MHN

O projeto integra o Programa Acervo em Rede e utiliza a Tainacan: ferramenta de catalogação e difusão de acervos. No ano passado conseguimos finalizar a coleção agora lançada.

Ela é formada por 1215 itens entre barras e moedas ouro do acervo do MHN. São peças produzidas em várias regiões de Portugal, assim como no Brasil, ainda sob domínio português e já como país independente. São nove séculos de emissão monetária, com exemplares datados entre os anos de 1185 e 2002.

O termo “numismática” não é só associado a moedas, correto? Acredito que essa dúvida seja bastante comum…Você poderia explicar rapidamente que outros tipos de coleções também são contempladas na numismática?

PA: De uma maneira mais ampla, a numismática é entendida como a ciência que estuda moedas, cédulas, medalhas e objetos pecuniários que dizem respeito às trocas comerciais e meios de pagamento. Através da análise das moedas, é possível identificar diversos aspectos sociais e econômicos que nos ajudam a entender as sociedades – tanto atuais quanto do passado.

No MHN temos uma reserva técnica dedicada a essa tipologia de acervo. Já no decreto de fundação do museu, em 1922, estavam previstas duas seções ou reservas técnicas: a primeira de objetos em geral e a segunda, chamada “numismática, filatelia e sigilografia”, com essas tipologias específicas. Com o passar do tempo, os funcionários e toda a documentação do museu passaram a se referir ao núcleo simplesmente como “numismática” pela relevância da coleção de moedas e cédulas.

A moeda "Peça da coroação" (1822) na exposição de longa duração do MHN

A moeda “Peça da coroação” (1822) na exposição de longa duração do MHN

Mas, na verdade, esse núcleo do museu trata de várias tipologias como como moedas, jetons, moedas particulares, valores impressos, que são as cédulas, vales, apólices, cartões de crédito e de telefone; cunhos, medalhas, condecorações, sinetes sigilográficos, selos postais e fiscais.

Como foi formado o acervo de numismática do MHN, que hoje tem mais de 150 mi itens e é considerado um das mais relevantes da América Latina?

PA: O núcleo original desta coleção foi formado a partir de 1880 na Biblioteca Nacional e transferido ao museu logo após a sua fundação em 1922. O museu recebeu aproximadamente 35 mil itens, mobiliário de guarda e expositivo, além de uma biblioteca especializada com 974 volumes.

Outras instituições também transferiram parte de suas coleções para o MHN, como Arquivo Nacional, Museu Naval, Casa da Moeda e Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Além disso, o museu recebeu doações feitas por grandes colecionadores de moedas e objetos afins e ainda doações das mais variadas feitas pelo público em geral que complementaram o acervo. Destacam-se no acervo três núcleos: a coleção de moedas do Brasil; a coleção de moedas de Portugal e seus domínios e a coleção de moedas da Antiguidade.

Imagino que a guarda e conservação de um acervo desse porte não deve ser tarefa fácil! Fala pra gente agora sobre a equipe da Numismática e um pouco do trabalho cotidiano de vocês…

PA: E não é mesmo! Atualmente, além de mim, que sou museóloga, o núcleo conta com mais um museólogo, meu colega Pedro Heringer, e um pequeno número de estagiários e voluntários que são fundamentais para o desenvolvimento das atividades. Por termos esse quadro tão reduzido, as ações do núcleo são preferencialmente voltadas para o planejamento e desenvolvimento da conservação preventiva, da documentação e do atendimento aos pesquisadores.

De maneira geral, fazemos o controle das condições ambientais da área de guarda, como luz, umidade, poluição e o controle de pragas; o processamento técnico, com a catalogação, conferência das informações e localização de cada peça. Trabalhamos com embalagem e acondicionamento adequados para evitar danos e desgastes, digitalizações para o registro do bem, higienização das peças, além da pesquisa necessária sobre cada item. Sempre pensando na preservação e na segurança do acervo.

Denários do imperador romano Augusto (27 a.C-14 d.C) na reserva técnica do MHN

Denários do imperador romano Augusto (27 a.C-14 d.C) na reserva técnica do MHN

Uma parte importante do trabalho é o atendimento aos pesquisadores. Sabemos que as moedas são fontes primárias, que trazem marcas dos atores sociais, que em muitos casos não estão mais presentes e que não deixaram muitas outras evidências que tenham chegado até hoje.

Assim, por serem feitas de material durável e terem legendas, datas, imagens que possuem um significado e uma intenção, elas são um suporte para o estudo de padrões de comportamento da sociedade que a produziu, por exemplo, além de muitas outras possibilidades de pesquisas que não daria para falar aqui.

O MHN possui uma exposição de longa duração sobre a história do Brasil. Como a numismática está presente nessa exposição?

O acervo da numismática está presente em todo o circuito de longa duração do MHN. Conforme as histórias são contadas apresentamos alguns exemplares do meio circulante para compor essa narrativa. Os objetos da numismática são introduzidos desde o núcleo “Portugueses no mundo” e seguem até o final do circuito.

Inicialmente vemos a moeda conhecida como “O índio”, um exemplar único no Brasil, emitido por D. Manuel I, em 1499, provavelmente para comemorar a descoberta do caminho marítimo para as índias. Além disso, vemos peças comemorativas da chegada dos portugueses ao território brasileiro, inclusive aquela cédula de 10 reais que muitos já usaram, feita de polímero. Também podemos ver exemplares das primeiras moedas feitas em território brasileiro, que por incrível que pareça, foram cunhadas por holandeses, durante o domínio no nordeste do Brasil, na primeira metade do século XVII, conhecidas como moedas de necessidade ou obsidionais.

Também as primeiras moedas feitas pelos portugueses, na Bahia, em 1695. Temos barras de ouro e moedas que mostravam toda a riqueza do ouro brasileiro, durante o período da mineração, na primeira metade do século XVIII. Podemos inclusive ver o dobrão de 20 mil réis, considerada a maior moeda de valor intrínseco já tendo circulado no mundo. Moedas de prata espanholas, conhecidas como 8 reales, que posteriormente foram recolhidas e recunhadas já no início do século XIX. Moedas produzidas em todas as casas da moeda que existiram no Brasil.

O acervo de numismática integra todo o circuito de expositivo do MHN

O acervo de numismática integra todo o circuito expositivo do MHN

As moedas emitidas com a chegada da corte, depois com a criação do Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves, além de dom João como príncipe regente e depois já como dom João VI; moedas do Brasil independente e a peça da coroação, uma moeda rara que apresenta dom Pedro I com traje alusivo aos imperadores romanos. Através das moedas conseguimos ver dom Pedro II sendo retratado em diversas fases da vida.

Além das moedas, cédulas e selos, contamos com itens mais recentes como cartões de crédito e apólices de seguro. Todos esses tipos de objetos, juntamente com medalhas, sinetes e condecorações nos ajudam a contextualizar as mudanças políticas, sociais e econômicas ao longo da história brasileira.

Para mais informações sobre a numismática do Museu Histórico Nacional, escreva para o endereço eletrônico mhn.numismatica@museus.gov.br. O MHN segue fechado ao público devido à pandemia do novo coronavírus. Para outras informações, escreva para faleconosco.mhn@museus.gov.br

Texto: Ascom/MHN
Fotos: Numismatica/MHN

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