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“O retrato do rei dom João VI” é a nova exposição do MHN

Faz 200 anos que dom João VI (1767-1826) foi aclamado, no Rio de Janeiro, rei de Portugal, Brasil e Algarves. Em celebração à data, o Museu Histórico Nacional (MHN) inaugura, dia 29 de novembro, a exposição “O retrato do rei dom João VI”.

A curadoria é de Paulo Knauss, diretor do MHN e professor de História da Universidade Federal Fluminense – UFF. A mostra é centrada na construção da imagem de dom João a partir de 24 pinturas, oriundas de instituições brasileiras e portuguesas, coleções particulares e do próprio acervo do MHN. Além dos retratos, completam a exposição condecorações, medalhas, moedas, leques, gravuras e uma réplica da coroa de 1818 – somando  cerca de 60 ítens.

O curador propõe um percurso pelo retrato biográfico, de João menino ao rei dom João VI, a leitura política da retratística do rei e o resgate de uma pintura de 1814, desconhecida do público.

Dom João jovem: quadro, de autor e data desconhecidos, pertence ao acervo do Museu do Banco do Brasil RJ

Dom João jovem: quadro, de autor e data desconhecidos, pertence ao acervo do Museu do Banco do Brasil RJ

“O conjunto evidencia como a diversidade da imagem de dom João acompanha as muitas mudanças políticas e de gosto da época, o que permite também reconhecer o diálogo dos artistas de Portugal com os do Brasil, considerando que, a partir de sua estada na cidade do Rio de Janeiro, o rei passou a ser representado por pintores nascidos no país e formados longe das academias europeias”, avalia Knauss.

Restauração ao vivo
A curadoria quer jogar luz sobre o pintor brasileiro Antônio Alves, quase anônimo – não se sabe sua data de nascimento e morte, por exemplo – conhecido por seus desenhos naturalistas e por ter concebido a bandeira republicana da revolução de 1817 em Pernambuco.

O Conde da Barca, diplomata, cientista e político, que veio de Portugal com dom João, encomendou a Alves uma cópia do retrato do rei feita pelo pintor italiano Domenico Pellegrini (1759-1840).

O quadro de Antônio Alves, que pertence ao acervo do Museu Dom João VI, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – EBA/UFRJ, será restaurado em ateliê aberto pelo técnico do Laboratório de Restauração em pintura do MHN, Luiz Fernando Abreu, com apoio de estudantes da EBA, durante o período da exposição – que segue até 17 fevereiro de 2019.

Paulo Knauss espera que, após a exposição, a pintura possa ser apresentada como exemplo de preservação do patrimônio cultural e principal legado da mostra.

EmO retrato do rei dom João VI” acontece o primeiro encontro da tela original de Pellegrini, do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, com a cópia de Antônio Alves. A curiosidade é que na pintura do italiano vê-se, pela janela, o Terreiro do Paço em Lisboa. Na versão de Alves, a paisagem vista é a da baía da Guanabara, com destaque para o Pão de Açúcar ao fundo.

O retrato presente
Dom João VI foi, possivelmente, o rei português mais retratado na história da pintura e da gravura, pois precisava promover sua imagem para se fazer presente em Portugal enquanto viveu no Brasil – entre 1808 e 1821.

A curadoria se propõe a revelar uma história da pintura no Brasil da época, em diálogo com a produção da Missão Artística Francesa, com destaque para os trabalhos de José Leandro de Carvalho e Simplício Rodrigues de Sá.

Entre os retratos, destaca-se no conjunto a pintura mais conhecida de Jean-Baptiste Debret, realizada em 1817, que mostra o rei em traje majestático, enquanto os demais apresentam dom João em retratos de três quartos (busto) ou a cavalo.

Dom João e sua esposa, dona Carlota Joaquina: retrato feito no século XIX por Manuel Dias de Oliveira, pertence ao acervo do MHN

Dom João e sua esposa, dona Carlota Joaquina: o retrato, feito no século XIX por Manuel Dias de Oliveira, pertence ao acervo do MHN

“A iconografia dos retratos permite acompanhar a história política pela substituição, por exemplo, do chapéu bifronte de regente pela coroa de rei, assim como pelas insígnias que trazia ao peito e que traduziam o jogo das relações internacionais à época de seu governo”, analisa Paulo Knauss.

Uma curiosidade é que na juventude de dom João, era habitual empoar o cabelo, dando-lhe um aspecto grisalho. As pinturas dessa fase retratam o então príncipe regente com cabelos brancos, enquanto em obras posteriores, em que aparece mais velho, o cabelo é escuro.

Outra curiosidade é que, diferentemente de outras monarquias europeias, os reis portugueses não usavam coroa. É possível observar, em todos os retratos, a coroa sobre uma almofada ao lado de dom João VI – como no ato de sua aclamação em 1818. Esta tradição tem origem em 1640, quando o rei João IV de Portugal ofereceu sua coroa a Nossa Senhora da Conceição, elegendo-a “a verdadeira rainha de Portugal”.

Um reinado inesperado

Dom João era o filho mais novo da rainha dona Maria I. Tornou-se herdeiro do trono diante da morte de seu irmão mais velho, José, aos 27 anos. Quando dona Maria foi declarada mentalmente incapaz, em 1792, dom João assumiu, então, o título de príncipe regente e com a morte dela, foi aclamado rei.

A ameaça do imperador francês Napoleão Bonaparte em invadir Portugal fez o então príncipe regente transferir a corte para o Brasil, e aqui permanecer até 1821. Casado com dona Carlota Joaquina, filha do rei Carlos IV da Espanha, teve nove filhos, entre eles dom Pedro I – eternizado na história como o primeiro imperador do Brasil.

Embora pouco valorizado pela história, dom João VI deixou no Brasil um legado memorável: abriu os portos às nações amigas, fundou o Jardim Botânico e a Biblioteca Nacional no Rio, além do primeiro banco do país, entre outros feitos.  Outra importante contribuição do monarca foi a renovação do ensino de artes no Brasil com a chegada da Missão Artística Francesa, em 1817, que deu origem à Academia Imperial de Belas Artes – futura Escola Nacional de Belas Artes.

Do Museu Nacional de Arte Antiga (Portugal), a tela de Domenico Pellegrini (1805) retrata dom João como príncipe regente

Do Museu Nacional de Arte Antiga (Portugal), a tela de Domenico Pellegrini (1805) retrata dom João como príncipe regente

A exposição “O retrato do rei dom João VI” dá início a uma série de eventos comemorativos do bicentenário da independência do Brasil e do centenário do MHN em 2022.

Acompanha a mostra um catálogo de 160 páginas, com texto do curador e imagens de todos os ítens da exposição. O lançamento da publicação acontece na semana anterior ao encerramento do evento.

Emprestaram obras para a mostra: Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty; Pinacoteca de São Paulo; Fundação Maria Luisa e Oscar Americano; Museu Paranaense; Museu Banco do Brasil; Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Museu da Medicina da Faculdade de Medicina da UFRJ; Museu da Inconfidência; Museu Nacional de Belas Artes; Museu Imperial; Museu Paulista; Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo (Évora, Portugal); Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa, Portugal); Museu Dom João VI e colecionadores particulares.

A realização é do Museu Histórico Nacional e Instituto Brasileiro de Museus, com o patrocínio da EDP, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura/ Ministério da Cultura. E tem copatrocínio do Instituto São Fernando e do Itaú Cultural, com a colaboração do Ministério da Cultura de Portugal e apoio da Embaixada de Portugal no Brasil, Instituto Camões em Brasília e Associação de Amigos do MHN. A produção é da Artepadilla.

Serviço
Exposição  “O retrato do rei dom João VI”
Período: 30 de novembro de 2018 a 17 de fevereiro de 2019
Museu Histórico Nacional – Praça Marechal Âncora S/N  – Centro – Rio de Janeiro, RJ
Visitação: terça a sexta, 10h às 17h30; sábado, domingo e feriado, 13h às 17h
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Entrada gratuita aos domingos Confira outras gratuidades em mhn.museus.gov.br.
Informações (21) 3299 0324 (recepção).

Foto destaque: Dom João, criança – atribuído a Cyrillo Volkmar Machaddo (1773) – coleção particular.

“O retrato do rei dom João VI” é a nova exposição do MHN

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