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Museu Histórico Nacional apresenta batalhas históricas na pintura de Edoardo De Martino

A coleção do pintor italiano retrata as principais batalhas navais do Brasil, como a Guerra do da Tríplice Aliança e conflitos pela Independência

A partir do dia 15 de março, o Museu Histórico Nacional, com o apoio do Istituto Italiano di Cultura, apresenta a exposição “Paisagens da Guerra – A pintura de E. De Martino”. A coleção de telas do pintor italiano, que se estabeleceu no Brasil entre 1867 e 1875, retrata as mais representativas batalhas navais da história brasileira, como as da Guerra da Tríplice Aliança, conflito entre as forças aliadas de Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, e as da Guerra do Uruguai da qual o Brasil fez parte.

A exposição traz ao público, pela primeira vez após mais de uma década, a coleção de obras de De Martino do Museu Histórico Nacional. Na sua pintura, os navios são os protagonistas. A partir do foco nas embarcações militares, o pintor elabora uma representação singular da guerra, inaugurando o gênero de pintura de paisagem marinha. As telas reunidas evidenciam, por um lado, o talento descritivo, a fidelidade aos detalhes e a perfeição técnica do pintor, e, por outro, o caráter poético de seus cenários, que transbordam a natureza documental de sua criação e expõem o exercício imaginativo na paisagem de guerra.

Fragata Independência

Fragata Independência

A obra de De Martino ganhou grande projeção social na década de 1870, no contexto de celebração da vitória da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), em que Brasil, Argentina e Uruguai, como forças aliadas, combateram o Paraguai. Mas sua consagração artística efetivamente se deu no âmbito da Academia Imperial das Belas Artes, ao participar com sucesso da edição de 1870 da Exposição Geral de Belas Artes, com duas telas, entre elas Abordagem do Ecouraçado Barroso e do Monitor Rio Grande, da coleção do Museu Histórico Nacional.

As primeiras pinturas de Marinha de De Martino são obras de fundamental caráter histórico e artístico para o Brasil. Em 1867, encarregado por D. Pedro II de produzir registros da campanha militar brasileira no Paraguai, De Martino pintou as primeiras telas que documentam a Guerra do da Tríplice Aliança, tendo se antecipado a célebres pintores da história do Brasil como Pedro Américo e Victor Meirelles, artistas também expostos no Museu Histórico Nacional, na representação deste conflito.

O pintor tem seu primeiro contato com embarcações bélicas no cargo de militar da Marinha de Guerra do Reino das Duas Sicílias, hoje parte da Itália. Pesquisadores suspeitam que, por haver testemunhado um traumático acidente naval já em território sul-americano, De Martino abandona as funções militares e dedica-se a retratar em telas a óleo os conflitos dos quais até então participava como combatente.

Contemporâneo de outros artistas italianos estabelecidos no Brasil na mesma época, como Angelo Agostini e Nicolau Facchinetti, o sucesso da criação artística de De Martino no Brasil singularizou sua trajetória, e, a partir da experiência brasileira, ele se lança como artista de projeção na Europa, seguindo carreira artística na Inglaterra, onde se tornou pintor de marinha da corte real britânica.

A exposição “Paisagens da Guerra – A pintura de E. De Martino” revela o valor da guerra como acontecimento decisivo na história da construção dos estados nacionais, e, logo, motivo de representação do passado nas artes plásticas. No Brasil, as batalhas navais participam da escrita de uma narrativa nacional, na qual a Marinha e as suas embarcações são elementos de destaque. Conforme expõe o diretor do Museu Histórico Nacional, Paulo Knauss: “Diante do poder de atração da pintura de De Martino, impõe-se a interrogação sobre o estranho costume humano de se fazer da violência da guerra o pretexto para o exercício da beleza”.

Naus e fragatas inglesas, Edoardo de Martino

Naus e fragatas inglesas

A coleção De Martino do Museu Histórico Nacional e a exposição

A coleção de quadros de Edoardo De Martino do Museu Histórico Nacional foi construída entre 1926 e 1941, quando a instituição se constituiu como referência do patrimônio cultural no Brasil. A primeira aquisição ocorreu por transferência de duas telas da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Entre 1927 e 1932, foi enriquecida de modo decisivo pela doação de 11 telas da Marinha do Brasil. O acervo se completou ainda com a incorporação de duas telas de coleções particulares, respectivamente de Bento Martins de Menezes, em 1937, e a segunda de Djalma Fonseca Hermes, em 1941.

A exposição no Museu é dividida em três partes, que seguem diferentes vertentes da pintura de Edoardo De Martino. A primeira, Paisagem de Navios, apresenta obras que afirmam o gênero da pintura de paisagem marinha, no qual a atmosfera do ambiente é enaltecida para além do tratamento descritivo dos navios. Em Retratos de Navios, as embarcações protagonizam as pinturas, apresentando-se em situação de pose. Por fim, a sessão Navios em Cena demonstra o destaque dado aos navios em relação a representações de figuras humanas na pintura de De Martino, característica que permite a sua obra transcender o caráter histórico, alçando-se a um limiar subjetivo e artístico.

 

Canoas em Vigília no Chaco

Canoas em Vigília no Chaco

Mais sobre Edoardo De Martino

Edoardo De Martino nasceu na cidade de Meta, região napolitana da Itália, então Reino das Duas Sicílias. O italiano segue os passos de seu pai na carreira militar na Marina de Guerra, e, paralelamente, frequenta cursos livres de pinturas, tendo sido aluno de nomes destacados da Academia de Belas Artes de Nápoles, como Domenico Morelli e Giacinto Gigante. A Baía Napolitana é, no século XIX, motivo artístico para os pintores de paisagens da região, que caracterizam a Escola de Posillipo.

Em 1866, De Martino estava embarcado como piloto e oficial da Marinha de Guerra no navio Ercole, para temporada na estação naval italiana de Montevidéu, no Uruguai. Há uma hipótese de que, ali, após testemunhar grave acidente naval, o então oficial decide abandonar a Marinha e seguir carreira artística. Do Uruguai, De Martino ruma ao Brasil onde é contratado por D. Pedro II para retratar a campanha militar brasileira no Paraguai, ganhando notoriedade como pintor de paisagens de guerra.

Conforme analisa o diretor do Museu Histórico Nacional, Paulo Knauss: “O conhecimento naval dos anos de formação e experiência na Marinha de Guerra se faz notar na obra do artista. Na criação de De Martino, os navios ganham vida e personalidade pelo desenho detalhado, destoando das manchas e do pincel ligeiro que marca o tratamento de outros elementos, como as figuras humanas.” Frisa-se que, para além do importante caráter documental, sua obra é relevante para a história da construção do olhar oitocentista.

 

Serviço

Exposição “Paisagens da Guerra – A pintura de E. De Martino”
Endereço:  Museu Histórico Nacional – Praça Marechal Âncora, s/nº    20021-200 – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 3299-0324
E-mail: faleconosco.mhn@museus.gov.br
Horários: De terça a sexta-feira, das 10h às 17h30, e sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h.
Ingresso: R$ 10,00 (bilhete inteiro) e R$ 5,00 (meia-entrada). Entrada gratuita aos domingos.

Museu Histórico Nacional apresenta batalhas históricas na pintura de Edoardo De Martino