A Biblioteca do MHN é responsável pela guarda e preservação de 21 coleções bibliográficas – que somam mais de 65 mil itens. Neste episódio do Podcast “Museu e histórias”, a equipe de Comunicação do museu conversa com a bibliotecária Eliane Vieira.
Responsável pelo Núcleo de Acervo Bibliográfico do Museu Histórico Nacional, Eliane Vieira faz uma panorama do acervo, destacando algumas das coleções. Conta ainda sobre o catálogo de obras raras que está sendo produzido atualmente e de um projeto em parceria com outras bibliotecas cariocas. Confira abaixo a transcrição da entrevista – que você pode ouvir em nosso perfil no Spotify.
A Biblioteca do MHN tem sob sua guarda hoje cerca de 65 mil itens bibliográficos, sendo que cerca de 8 mil deles são de obras raras. Para começar, conta pra gente um pouco sobre a formação dessa coleção de obras raras, que tem exemplares datados desde o século XVI…
EV: Os itens bibliográficos do acervo da Biblioteca do Museu Histórico Nacional são agrupados em 21 coleções, entre as quais estão as obras raras. Os primeiros exemplares são oriundos da Real Bibliotheca, que pertenceram a dona Maria I de Portugal, mãe de dom João VI.
Estas obras, impressas entre os séculos XVI e XIX, chegaram ao Brasil em 1808 com a transmigração da Família Real portuguesa e versam sobre numismática – que já foi um dos temas aqui do podcast MHN. Inicialmente, o acervo pertencia à Biblioteca Nacional e em 1922 foi doado ao MHN quando da sua criação. Desde então, a biblioteca do museu vem recebendo outras doações.
A Biblioteca do MHN está finalizando um catálogo com algumas ‘jóias da coroa’ da coleção bibliográfica, digamos assim. Conte-nos um pouco sobre este trabalho que está sendo realizado com a assessoria da especialista em obras raras, Ana Virgínia Pinheiro.
EV: O catálogo ao qual você se refere como “jóias da coroa” é sobre as obras raras da coleção de numismática. A publicação tem o título “Numismata: catálogo da coleção fundadora da Biblioteca do Museu Histórico Nacional” e é produto da monografia da bibliotecária Márcia Cristina Githay de Mattos, apresentado em 1994 na Faculdade de Biblioteconomia da Unirio. O tema surgiu a partir da experiência de Márcia como estagiária na biblioteca do MHN em razão da carência de se ter um catálogo sobre numismática.
Sempre vislumbramos transformar essa monografia em um catálogo pela qualidade do trabalho que foi desenvolvido. Agora, após tantos anos, estamos realizando uma revisão e adaptação para uma edição impressa. Para assessorar na elaboração contamos com a valiosa colaboração de Ana Virgínia Pinheiro, que está atuando de forma voluntária.
Seu trabalho tem sido de grande importância nas pesquisas sobre a raridade de cada livro, supervisão e assessoria na construção do catálogo. Também agora como bibliotecária voluntária, Márcia Githay está realizando a transcrição das páginas de rosto, que são as fotobibliografias. Na equipe temos ainda a estudante de Biblioteconomia Suzane Garcia, também voluntária.
É um trabalho muito minucioso. Damos ênfase à identificação dos carimbos, assinaturas, ex libris, etiquetas e anotações existentes nas obras; além da descrição das ilustrações e a pesquisa bibliográfica de raridade e/ou importância realizadas em fontes ‘consagradas’, como dizemos. Entre as 120 obras que estarão no catálogo, destaco um livro identificado como uma contrafação, ou seja, a falsificação de uma obra – publicado no século XVII.
Para poder atuar nesse projeto conto com o suporte da equipe da biblioteca, que me possibilita realizar a seleção das obras, confeccionar as referências bibliográficas, fotografar as páginas e coordenar as ações do projeto como um todo. Agora é só aguardar o lançamento para conhecer de perto!
Já que você citou a equipe da Biblioteca do MHN, conta pra gente um pouco do trabalho cotidiano de vocês…
EV: Além de mim, a equipe da Biblioteca do Museu Histórico Nacional conta com a bibliotecária Gisely Melo e três auxiliares: Arionia Cunha, Maria José Freire e Suely Pires – cada uma desempenhando funções essenciais para o funcionamento da biblioteca.
No momento estamos especialmente dedicadas ao trabalho de migração da base de dados, que poderá ser acessada online – uma ação que está sendo feita com o suporte do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). A migração envolve toda a equipe em várias tarefas, como a conferência de dados, o que demanda o contato direto com o acervo físico, que está disposto numa área de aproximadamente 500 m². Mas como o museu se encontra temporariamente fechado devido à pandemia do novo coronavírus, esta parte está suspensa.
Outro trabalho que a nossa equipe está desenvolvendo é a identificação dos doadores das obras raras, através de pesquisa nos arquivos administrativos da biblioteca, pois a maioria das doações bibliográficas deu entrada no MHN sem identificação. Além disso, realizamos atendimento tanto presencial, atualmente suspenso, quanto virtual aos pesquisadores.
Em linhas gerais, que outras coleções da Biblioteca do MHN você poderia destacar?
EV: É difícil escolher em um universo de 21 coleções…Algumas vi nascer e outras pude organizar. Mas Na área de Indumentária, por exemplo, destaco a coleção Sofia Jobim, carinhosamente chamada de Sofia. Os itens da coleção pertenceram à estilista e também primeira professora de Indumentária da Escola de Belas Artes da UFRJ, que criou o primeiro museu de Indumentária e Arte Antiga da América Latina!
Na área de história do Brasil, destacaria duas coleções: uma sobre a primeira República, a coleção Miguel Calmon, e outra sobre a segunda República – a coleção Lauryton Guerra. Destaco ainda a coleção Gustavo Barroso por representar a trajetória do idealizador, fundador e diretor do MHN por longos anos. Na área de história do Rio de Janeiro, destaco a coleção Paulo Knauss, que foi diretor do Museu Histórico Nacional e é professor da Universidade Federal Fluminense.
A coleção mais recente que recebemos, como foco na Educação Museal, leva o nome da doadora, Magaly Cabral, que foi diretora do Museu da República aqui no Rio. No conjunto das outras coleções são abordados temas como Heráldica, Genealogia, Sigilografia, Filatelia, Gastronomia, História de Portugal e Arte decorativa.
A Biblioteca do MHN faz parte da Rede de bibliotecas e centros de Informação em arte no Estado do Rio de Janeiro. Recentemente, vocês iniciaram um trabalho para integrar informações sobre acervos de quatro bibliotecas no Estado. Explica pra gente como essa iniciativa contribui para usuários e pesquisadores…
EV: A Redarte, que congrega 30 bibliotecas no Rio e Niterói, é a porta de muitas realizações e neste ano completa 25 anos de atuação ininterrupta. Através de um projeto apoiado pela campanha de Matchfunding do BNDES no ano passado, a Redarte vai ampliar seus canais de apoio aos usuários, reunindo em uma plataforma informações sobre o acervo bibliográfico de quatro instituições no Rio de Janeiro: a Fundação Casa de Rui Barbosa e três museus ligados ao Ibram: os Museus Castro Maya, o Museu Nacional de Belas Artes e o nosso Museu Histórico Nacional.
Posteriormente, todas as bibliotecas ligadas à Redarte que tiverem interesse serão inseridas. Assim, os pesquisadores poderão localizar com facilidade em quais bibliotecas da rede o acervo desejado se encontra. Não é o máximo?!
Para finalizar: você já está no museu há mais de 30 anos, correto? Como você avalia o impacto da revolução digital sobre as bibliotecas, em especial a do MHN?
EV: Sim, estou lá há mais de 30 anos…As bibliotecas brasileiras estão buscando se inserir na era digital, algumas ainda a passos curtos, de forma a se adequarem ao novo tipo de usuário – o usuário não-presencial. Há muitas vantagens ao aderir ao mundo digital: a modernização de uma biblioteca minimiza o tempo gasto com os trabalhos de catalogação, pesquisa, bibliográfica, controle de empréstimo, circulação de publicações, e possibilita o acesso ao livro e ao documento digitalizados. Mas existem ainda fatores que dificultam a implementação e a sustentação de serviços do gênero – como a aquisição de hardwares e softwares, a manutenção deles e o acesso a uma conexão de internet de qualidade.
Eu diria que a era digital na Biblioteca do MHN começou em 1991 com a aquisição dos primeiros computadores para a criação de um banco de dados. Era um modelo XT, compartilhado na época com outro setor do museu…Houve também a evolução dos programas de gestão de acervo: começamos no MicroISIS e hoje estamos implantando o software Koha. Então posso afirmar que a biblioteca do MHN tem buscado se manter atualizada e espero que, muito em breve, ela possa ser acessada de forma rápida por usuários ao redor do mundo!
Para obter mais informações sobre a Biblioteca do MHN, faça contato pelo endereço eletrônico mhn.biblioteca@museus.gov.br. Alguns itens da biblioteca encontram-se disponíveis em nossa biblioteca digital. Outras informações sobre o Museu Histórico Nacional podem ser obtidas pelo endereço eletrônico faleconosco.mhn@museus.gov.br.
Texto e foto (equipe): Ascom/MHN
Fotos (biblioteca): José Caldas/MHN