Criada em 1984, a Reserva Técnica do Museu Histórico Nacional é responsável pela guarda de mais de 22 mil itens e, atualmente, passa por um processo de modernização que, entre outros benefícios, ampliará a sua capacidade.
No sétimo episódio do Podcast do MHN “Museu e histórias”, a equipe de Comunicação conversa com Jeanne Mautoni, museóloga responsável pela Reserva Técnica do MHN, que conta um pouco sobre a história do espaço, digitalização de coleções e alguns ‘tesouros’ que não estão aos olhos dos visitantes. Confira abaixo a transcrição da entrevista – que você pode ouvir gratuitamente em nosso perfil no Spotify ou no Google Podcasts.
A Reserva Técnica do Museu Histórico Nacional foi uma das primeiras do Brasil a se modernizar ainda nos anos 1980. Você pode contar pra gente um pouco desta história?
JM: O Museu Histórico Nacional, assim como outros museus, exibia toda sua coleção: todo o acervo ficava exposto, lembrando os Gabinetes de Curiosidades dos séculos XVII e XVIII.
O museu foi recebendo muitas doações, o acervo foi aumentando e gerando um excedente de peças, que já não cabia mais nas salas de exibição! E, por outro lado, a concepção das exposições passaram a privilegiar menos objetos por sala. Tudo isso contribuiu para aumentar a ‘sobra’ de objetos fora do circuito.
Por isso era urgente a criação de um espaço para abrigar esse excedente. Para a gente ter uma ideia, só cerca de 20% do acervo está no circuito expositivo – os outros 80% ficam guardados na Reserva Técnica.
Foi então que em 1984 foi inaugurada a Reserva Técnica, a mais moderna do país na época, referência para os outros museus brasileiros. Dez anos depois, em 1994, todo museu passou por uma grande reforma, que terminou em 2006, e a Reserva foi ampliada e modernizada com o que havia de mais adequado à conservação das coleções na época.
Só que o tempo passou e o que um dia foi moderno, hoje está ultrapassado – se compararmos com as novidades em equipamento e mobiliário de guarda, por exemplo. Os armários ficaram insuficientes para armazenar todos os objetos do acervo, que continua crescendo – além de questões que envolvem também a rede elétrica.
A Reserva Técnica conta hoje com cerca de 22 mil itens sob guarda e para dar conta desse grande volume de itens a ser preservados ela está passando por um processo de modernização. Explica pra gente em linhas gerais sobre esse processo.
JM: Sim, uma boa notícia. Com recursos do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, o museu está adquirindo um novo mobiliário para a reserva. São arquivos deslizantes modernos, desenhados de modo a acomodar coleções de tipologias variadas – como armas, têxteis, porcelanas etc. Além disso, eles foram projetados com capacidade para comportar o crescimento do acervo em 25%. E a rede elétrica também será modernizada, permitindo inclusive, a climatização do espaço.
Você pode destacar alguns itens que estão lá guardados e que não estão aos olhos do público?
JM: São muitos! Tem um vestido da Maria Bonita, uma sombrinha que pertenceu a princesa Isabel; uma espingarda que foi de dom Pedro I; a máscara mortuária de Napoleão [Bonaparte], entre vários outros tesouros da arte, da história e da memória – está tudo guardado lá na reserva técnica.
Conta pra gente agora um pouco sobre a equipe da Reserva Técnica e do trabalho cotidiano de vocês quando estão no museu – tendo em vista que o MHN está fechado desde março devido à pandemia do novo coronavírus e os funcionários estão atuando remotamente…
JM: A equipe está reduzida e no momento somos apenas eu, o museólogo Juarez Guerra e um estagiário de Museologia, Max. O nosso trabalho cotidiano é variado. Entre outras coisas, cuidamos da coleção, da documentação e do controle climático – também atendemos pesquisadores.
A Reserva Técnica já estava fechada antes da pandemia, por conta da reforma e da instalação do mobiliário novo, como falei. Antes do isolamento social, nós estávamos desocupando os armários antigos e movendo as peças para outro espaço. Atualmente, com o teletrabalho, estamos atualizando as informações na base de dados Tainacan.
Para finalizar, como você vê o futuro das reservas técnicas em museus e espaços de memória diante da digitalização crescente dos acervos e de conteúdos que já nascem digitais?
JM: Na verdade, a digitalização veio pra complementar e ajudar a preservar os documentos, já que evita que eles sejam manipulados. A digitalização também contribui para disponibilizar o acesso às informações para todos – basta ter internet. Mesmo com os conteúdos digitais, continuamos fazendo as fichas em papel. Veja bem, devemos considerar o tempo que duram, a exemplo dos disquetes de 3.5 polegadas, que se tornaram obsoletos e toda a informação foi perdida sem chance de ser recuperada – os leitores dessas mídias já não existem mais. Já o papel, a gente sabe que dura mais de mil anos!
Mais informações sobre o Museu Histórico Nacional podem ser obtidas pelo endereço eletrônico faleconosco.mhn@museus.gov.br.
Texto: Ascom/MHN
Fotos: Divulgação/MHN