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Instalação olfativa ocupa o pátio dos Canhões do MHN a partir de 10 de novembro

“Entre os cheiros da história”, instalação olfativa da artista multimídia Josely Carvalho, será aberta ao público no dia 10 de novembro com entrada franca. 

Criada especialmente para o pátio dos Canhões, a instalação poderá ser visitada até 29 de janeiro de 2023 – com entrada franca. A exposição pretende contar a história através dos cheiros, das sensações e lembranças que os odores nos remetem. Invisível aos olhos, a instalação será feita em canhões datados entre os séculos XVI e XX.

Em 20 dos 46 canhões do pátio do museu, a artista introduzirá cápsulas com 15 cheiros criados por ela em parceria com a Givaudan do Brasil, especialmente para esta mostra: da ausência à persistência; do medo à ilusão; do mar à invasão.

“Ao explorar o olfato, a artista transforma a boca do canhão em túnel do tempo. A arte de cheirar conduz, então, a histórias sensíveis do Brasil”, afirma o professor de história da Universidade Federal Fluminense, Paulo Knauss, no texto que acompanha a exposição. Nos dias 12 de novembro de 2022 e 28 de janeiro de 2023, a artista fará uma caminhada olfativa com o público pela exposição, às 15h.

Pioneira na utilização de cheiros em obras de arte no Brasil, Josely Carvalho utiliza o olfato em suas obras desde a década de 1980, como um “resgate da memória”, mas esta será a primeira vez que a artista fará uma instalação totalmente olfativa, que terá sua visualidade emprestada da coleção histórica de canhões do museu.  “

Instalação olfativa de Josely Carvalho ocupa o pátio dos Canhões do MHN a partir de 10 de novembro de 2022

Instalação olfativa de Josely Carvalho ocupa o pátio dos Canhões do MHN a partir de 10 de novembro de 2022

É uma obra não para ser vista, mas sentida, que aborda o resgate da memória histórica, transitando pelo espaço-tempo e adentrando os túneis dos canhões, que armazenam vestígios dos poderes econômicos, bélicos, políticos e sexuais, vivenciados ainda hoje com intensidade”, afirma a artista, que ressalta que olfato tem sido pouco inserido na arte contemporânea, que privilegia os sentidos da visão e da audição.

A exposição tem patrocínio da Granado, por meio da Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro; e apoio da Givaudan do Brasil e Ananse. A produção é do Estúdio Sauá e a realização é do Museu Histórico Nacional.

Canhões e cheiros
Para o canhão mais antigo do museu, datado do século XVI e pelo qual os historiadores tem um grande apreço, a artista criou o cheiro “Afeto”, com uma fragrância agradável, com notas adocicadas, que lembram momentos familiares e de infância. Para os canhões que participaram de guerras, o cheiro “medo”, que traz um odor salgado, de transpiração e urina.

O canhão da época de Getúlio Vargas, que foi feito com tubo de esgoto, ganhou o cheiro da árvore Abricó de Macaco, que tem lindas e perfumadas flores, mas, o seu fruto denominado “bola de canhão” ao cair no chão, exala um odor que é pútrido.

Para o canhão que participou da sangrenta Guerra do Paraguai, conhecido como El Cristiano, que foi fundido a partir de sinos de igreja, foi criado o cheiro “Incenso”, que traz reminiscências da colonização religiosa. Junto a este canhão, haverá o som de um sino tocando de tempos em tempos. Para falar sobre questões ambientais, alguns canhões ganharam o cheiro “Oceano”, que traz a brisa do mar, e “Mata”, com cheiro de terra molhada, e assim por diante.

Em cada canhão onde a artista introduzir cheiros, um QR Code levará o público à história daquela peça e também ao nome do cheiro criado, às fragrâncias contidas nele e à relação do cheiro com aquela história. Uma história que vem desde a época da fundição de cada canhão, mas é atualizada pela artista para os dias de hoje, refletindo como questões do passado ainda reverberam nos dias atuais.

Josely Carvalho sempre debateu questões do feminino em sua obra, mas, pela primeira vez, está usando o masculino para falar sobre o feminino, trazendo à tona questões sexuais e de poder. “Seu interesse pelos canhões tem justamente a intenção de colocar em questão as leituras da história dominadas pelo ponto de vista masculino.

Até 29 de janeiro de 2023, o público poderá sentir os cheiros criados pela artista e instalado nos canhões em exposição no MHN

Até 29 de janeiro de 2023, o público poderá sentir os cheiros criados pela artista, instalados nos canhões em exposição no MHN

“Pensei em como lidar com esse poder sexual, masculino, militar, econômico, das guerras, que foram e ainda são predominantemente masculinas. O cheiro é o feminino; é a poesia, e eu me sinto o cheiro penetrando nos canhões em busca das memórias vividas, porém, esquecidas nas paredes internas destas formas fálicas”, ressalta Josely.

Sobre a artista
A paulistana Josely Carvalho apresenta, desde a década de 1960, a mulher como protagonista de sua obra. Suas pesquisas ligadas ao olfato datam dos anos 1980. Há 13 anos iniciou, com o apoio da Givaudan do Brasil, a criação de cheiros conceituais.

Nos quatro últimos anos, apresentou exposições com essa abordagem nos museus de Arte Contemporânea da USP, Nacional de Belas Artes, no Rio, no centro Harvestworks, em Nova York e na Olfactory Art Keller Gallery, também em Nova York. Nos últimos anos, além dos cheiros, também utilizou vidro soprado em suas obras de arte. Como um desdobramento desta pesquisa, na atual exposição no Museu Histórico Nacional, encapsula os cheiros nos canhões.

Além da exposição “Entre os cheiros da história”, este ano também participa da coletiva “The Difference we’ve Made: New Work by Women Artists of the 70s”, de outubro a novembro, na Carter Burden Gallery em Nova York, e “Art for the Future: Artists Call and Central American Solidarities”, de setembro a dezembro na University of New Mexico Art Museum, no Novo México, EUA, e de fevereiro a agosto de 2023, no DePaul Art Museum, em Chicago, EUA.

Este ano recebeu o prêmio trianual Lee Krasner Award for Life Achievement, da Pollock Krasner Foundation, onde foi a única brasileira contemplada até hoje. Em 2019, recebeu na Holanda o prêmio internacional Art and Olfaction Sadakichi Award, na categoria Obra Olfativa Experimental, com cheiros desenvolvidos para a obra Teto de Vidro com a colaboração de Leandro Petit, perfumista da Givaudan do Brasil com quem tem trabalhado nos últimos anos. Saiba mais.

Serviço
Exposição “Entre os cheiros da história”, de Josely Carvalho
Abertura: 10 de novembro de 2022, às 11h
Exposição em cartaz até 29 de janeiro de 2023
Pátio dos Canhões – Museu Histórico Nacional
De quarta a sexta, das 10h às 17h. Sábado e domingo, das 13h às 17h.
Caminhada olfativa com a artista: 12 de novembro de 2022 e 28 de janeiro de 2023, às 15h.
Entrada franca.

Texto: Beatriz Caillaux/Midiarte Comunicação
Edição: Ascom/MHN

Instalação olfativa ocupa o pátio dos Canhões do MHN a partir de 10 de novembro

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