No mês em que o Museu Histórico Nacional completa 98 anos de criação, o último episódio da primeira temporada do podcast “Museu e histórias” leva o público a um passeio pelo conjunto arquitetônico do museu.
Localizado em um dos pontos mais antigos da cidade do Rio de Janeiro (RJ), o complexo que hoje compõe o MHN é formado por edificações de diferentes períodos históricos, que contam tanto sobre a história da cidade quanto da história do Brasil, tendo sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2009.
em uma conversa de nossa equipe de Comunicação, o pesquisador Álvaro Marins, que integra o Núcleo de Pesquisa, aborda a formação do atual complexo arquitetônico do MHN, que ocupa mais de 14 mil metros quadrados. A entrevista, assim como todas as anteriores, pode ser ouvida gratuitamente, sem necessidade de ser assinante, em nossos perfis no Spotify ou Google podcasts. Abaixo, você pode ler a transcrição da entrevista.
O Museu Histórico Nacional está localizado em uma das áreas mais antigas da cidade do Rio de Janeiro, que nos remete ao início do século XVII…Você conta pra gente sobre as origens das edificações que compõem hoje o complexo arquitetônico do MHN?
AM: O local onde se encontra o museu era originalmente uma ponta de terra que avançava sobre as águas da baía de Guanabara, entre as praias de Piaçaba e de Santa Luzia. Nessa ponta os portugueses ergueram, em 1603, o Forte de São Tiago da Misericórdia, ao qual se acrescentou a prisão do Calabouço em 1693 – destinada à prisão e castigo de escravizados.
Na mesma região foi construída a Casa do Trem em 1762 – um local de produção e armazenamento de armas e munições. Dois anos depois foi criado o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, onde também numa parte dessas edificações funcionou um quartel a partir de 1835.
Então, as origens arquitetônicas do museu são instalações militares do período da colonização portuguesa e assim permaneceram, com alterações, após a Independência e até o início do século XX.
Deve-se lembrar que esse é um período de conquistas do litoral brasileiro, ocupado originalmente pelos índios tupinambás, e que esses territórios eram disputados por outros reinos europeus, principalmente o francês e o holandês. Por sua localização estratégica para a defesa da cidade, essas instalações foram consideradas como área militar até 1908, quando o Arsenal de Guerra foi transferido para a ponta do Caju.
Nesta linha do tempo do complexo arquitetônico do MHN, o ano de 1922 é um marco por ser o ano de criação do museu no contexto das comemorações do centenário da Independência do Brasil. Você pode falar um pouco mais sobre esse momento?
AM: Na década de 1920, a ponta do Calabouço foi aterrada e reurbanizada para acolher a Exposição Internacional do Centenário da Independência. Devemos lembrar que a primeira metade do século XX foi o período as grandes exposições internacionais em várias capitais do mundo. As comemorações as quais você se refere ocorreram em 1922, mesmo ano da criação do museu. Para integrar esse evento, as edificações do antigo Arsenal de Guerra foram ampliadas e remodeladas, com uma decoração característica da arquitetura neocolonial.
Essas novas instalações foram abertas ao público durante a exposição internacional. Elas abrigaram o palácio das Grandes Indústrias, um dos pavilhões mais visitados da referida exposição, mas também já duas galerias do recém-criado Museu Histórico Nacional. Com o fim da exposição, essas instalações ainda abrigaram por um tempo algumas repartições administrativas do Exército Brasileiro, dividindo-as com as galerias do museu.
Aos poucos essas repartições foram sendo transferidas para outros locais e por volta de 1940, o museu já abria para o público 22 galerias. Mas desde a década de 1960, todo o conjunto arquitetônico é ocupado exclusivamente pelo Museu Histórico Nacional.
Importante registrar que do primitivo Forte de São Tiago e da prisão do Calabouço restam apenas as fundações. Entretanto, subsistem até os nossos dias o edifício da Casa do Trem, que sofreu algumas remodelações na década de 1990, o prédio do antigo Arsenal de Guerra, onde se localiza o pátio da Minerva, e o pavilhão da Exposição de 1922, atualmente é ocupado pela biblioteca do museu.
Uma data também muito importante para o museu é que, em 2009, todo o conjunto arquitetônico e as coleções do museu foram tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
O MHN tem hoje, no total, mais de 14 mil metros quadrados de área útil. Você pode dizer pra gente, em linhas gerais, como o museu se distribui nesse espaço?
AM: Atualmente, o museu ocupa todo o conjunto arquitetônico da antiga ponta do Calabouço e seus espaços expositivos abertos à visitação pública fazem parte de um conjunto arquitetônico, que abrange essa área útil total de 14.540 metros quadrados, que você mencionou. Devem ser somados ainda os 3.212 metros quadrados de seus pátios internos: o pátio Epitácio Pessoa, também conhecido como pátio dos Canhões, o pátio da Minerva, o pátio de Santiago e o pátio Gustavo Barroso.
No pavimento térreo encontram-se o pátio dos Canhões, que apresenta uma coleção de canhões desde o período colonial, além da exposição “Do móvel ao automóvel”, com diversas carruagens. Nesse pavimento encontra-se ainda as reservas técnicas do museu, no pátio Gustavo Barroso. Há também no térreo algumas galerias utilizadas para exposições temporárias, o pátio de Minerva e os jardins do MHN.
O segundo pavimento apresenta o circuito de exposições de longa duração do museu. Neste segundo pavimento localiza-se também a biblioteca do museu, que dá acesso ao pátio de Santiago, e a o Arquivo Histórico do MHN.
No terceiro pavimento funcionam o Arquivo Institucional, o Laboratório de Conservação e Restauração e as áreas técnicas e administrativas do museu. Na Casa do Trem localiza-se o acervo de Numismática.
Para finalizar, Álvaro: o MHN fará 100 anos em 2022. Como você imagina que pode ser a ocupação deste espaço daqui a algumas décadas?
AM: Eu imagino que o museu continuará existindo e que os atuais profissionais que trabalham no museu continuarão a tarefa daqueles que nos antecederam no sentido de oferecer aos visitantes, brasileiros e estrangeiros, um museu cada vez melhor. Muitas gerações contribuíram para que o museu chegasse a essa condição centenária e eu acredito que as próximas gerações de profissionais continuarão esse trabalho.
Outras informações sobre o complexo arquitetônico do MHN podem ser obtidas no Núcleo de Pesquisa do MHN pelo endereço eletrônico mhn.pesquisa@museus.gov.br. Para outras informações sobre o MHN, escreva para faleconosco.mhn@museus.gov.br.
Texto: Ascom/MHN
Fotos: Divulgação/MHN